quarta-feira, 31 de outubro de 2007


Procuro alguma palavra,
Que seja pura e linda
Que não esteja encharcada
de cerveja...
Mas qual?
Palavras têm vida,
São demônios das profundezas
Que me invadem,
E me enlaçam,
E me exigem.
- Defina uma palavra prá ela...

Procuro uma palavra
Que te defina
E que te dê luz...
Mas qual?
Palavras são traiçoeiras,
São duendes perdidos em florestas
mágicas...
Mágica!
É esta a palavra.
Achei a palavra
Que te define.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

CARTA


Não me culpe, nem me jogue toda a responsabilidade pelas palavras que escrevo. Perdão se elas soam falsas, se são vazias, se não transpiram essa angústia que vivo, essa expectativa dilacerante. Perdão por elas, perdão por todas elas. Palavras são ocasionais...
Volto, e lhe pergunto: Como posso lhe escrever se não lhe conheço, se apenas pressinto sua presença? Não sei, nem me pergunte. Sei apenas que sinto você próxima, sinto seu calor, posso até mesmo tocar sua pele. Mas você ainda não existe, você ainda não habita meu quarto. Onde estaria você nesse momento? Em alguma parte desse mundo, talvez próxima, talvez distante, quem sabe virando a esquina... Onde está você agora? Eu preciso tanto lhe dizer, eu preciso tanto lhe sorrir. Eu me vi em você.
Você gostará de me conhecer? Gostará de meu cheiro, de meu toque, desse meu olhar desamparado, de meu ar de menino carente? Gostará desse meu jeitinho, de meu corpo, de minhas mãos quando elas lhe tocarem? Você gostará realmente de mim, tanto quanto eu gosto de você?
Dou-lhe estrelas, meu invisível anjo de luz! Dou-lhe as estrelas do mundo, as notas desse indivisível compasso; dou-lhe minha vida, e minha carne, e toda a fragilidade de um sorriso... Apenas eu, meu anjo, posso sentir você agora, e toco-lhe em pensamento, bebo de sua presença dentro de cada ausência humana. Apenas eu.
E continuo vendo, e continuo amando você, e seus olhos me desejam em cada avenida, embora ainda não saiba em qual delas encontrá-los. Mas sei que existem, que estão no mundo agora. Que sabe onde? Mas seria tão feliz se os encontrasse com a urgência dos desesperados...
Eu amo você. Hoje, ontem, sempre.
Mergulhado nessa minha solidão, poeta em intermezzo, eu lhe aguardo. Meus versos esperam por você, represo as palavras até sua chegada. Posso ouvir as batidas de seu coração, sua respiração tão próxima...
Sou você. Sua outra metade que lhe espera.

FUGA


Para que tentar fugir de teus olhos
Se não consigo fugir nem mesmo dos meus?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

ESCREVER A PAZ

Como escrever a paz? Talvez, estabelecendo a perspectiva de que ela se traduziria na indivisível dualidade da moeda: se, de um lado, uma cara sorridente se abre, inteira, às intermináveis investidas do hermeneuta, do outro a coroa, sisuda, descortina toda a dificuldade da conceituação. A pomba branca já não traz no vôo delicado a simplicidade de asas batendo, mas a inteireza de um intrincado organismo, que desce aos meandros subatômicos, a detalhes que não se percebem, ao encaixe da pena na pele, à contração das fibras musculares...
Essa é a missão – às vezes, ingrata, outras tantas, instigante - que se coloca e que, por hora, se aceita. De repente, não seria assim tão difícil proceder a essa análise se o ser humano, na sua arrogante prepotência – ou seria, ignorância? - não complicasse de forma tão evidente ou se suas ações, porventura, demonstrassem, ainda que de maneira sutil ou inesperada, uma coerência matemática. Mas o homem age com a imprevisibilidade daquilo que não se espera, onde são fatídicas quaisquer assertivas. Simplesmente, dentro desse contexto humano, não existe dois-mais-dois-igual-a-quatro...
Tento, então, estabelecer algum paralelo entre o que foi, o que é e o que será, e me surpreendo em digressões que ruborizariam até mesmo os filósofos da antiga Grécia. Ora, imagino que, nascidos do acaso, estabeleceríamos um primeiro contato com o semelhante, ambos ainda no mesmo patamar, a paz originária atuando de maneira uniforme e equânime. Porém, aquilo que parecia ser o sistema perfeito, desintegra-se, como o átomo que, antes unido e inseparável, é quebrado pela ação do homem – não por mera correlação de causa e efeito, origina-se aí a bomba atômica...
Essa distorção deu-se no início, quando alguém quis mais que o outro. Foi como se aquela ave, que preludiava um lindo e iluminado vôo fosse atingida, em cheio, por alguma dessas incontáveis balas perdidas que povoam nossa realidade e que, morta, despencasse, caindo estatelada no asfalto carcomido.
A paz, então, deixa de ser a corrente e torna-se apenas o elo. E o elo é apenas um, depende de outros para tornar-se inteiro. E aí reside o grande dilema: enquanto parte da humanidade vislumbra a paz como aquele lado sisudo e mal-humorado da moeda, e não encontram explicações convincentes, claras, retilíneas, sobre sua origem e amplitude, teorizam sobremaneira, confundindo, enrolando, dando nós insolúveis, construindo uma doutrina hermética e insustentável - e, conseqüentemente, não a atingem nunca!- existem milhares de pessoas que, como eu, entendem a paz como a face sorridente da moeda, presente em cada sorriso espalhado por essa enorme aldeia, em cada gesto espontâneo de carinho, no olhar amigo, solidário, no diálogo sem exasperação, na suavidade do ombro que acolhe e da mão que afaga, nas balas de canhão que se transformam em sementes germinando amor no solo desgastado...
Devemos, sim, não apenas escrever a paz, mas vivenciá-la, apreendendo toda a sua simplicidade, como se fizéssemos um retorno imaginário àquele momento em que se quebrou a corrente para, de novo, como elos renascidos, novamente juntos, redesenhar, nos céus, o vôo leve e despretensioso daquela pomba branca no cair da tarde...

SOLIDARIEDADE

Procuro as mãos do outro, para nelas repousar as minhas mãos cansadas...
Como um barco, procuro o porto, e procuro o mar, e o mar se desdobra
Em dezenas de outros, com as mesmas mãos estendidas, cansadas, solidárias...

Solidariedade, então, é isso?... Será mesmo assim?

Será como a mão sedenta, cansada, procurando outras, para nelas repousar?
Será como o barco errante, procurando portos, e outros tantos mares para navegar?
Será como a vida, ou como se quer que a vida fosse?

Talvez...

Penso, também, que seja como o sorriso que anseio desenhado na face do outro, enfim.
Ou como o colo, a bala, o doce, entregue pelo outro para a criança que ainda somos.
Quem sabe, como a palavra iluminada que afasta os pesadelos da escuridão da noite...

Talvez, solidariedade seja algo simples assim, por que não?

Sem expressões rebuscadas, sem rococós gramaticais, sem versos empoeirados,
De palavras cheirando à naftalina, sem as frias invencionices da língua culta, padrão,
Sem o açoite da colocação pronominal, da verborragia vazia, sem graça, inodora.

Não...

A solidariedade – quem diria! - rima com a simplicidade que se quer dela.
Está no sorriso, no aconchego, no aperto de mãos, no abraço incontido, no carinho,
No amparo à queda, na presença, no coletivo, na cooperação, nos bens repartidos...

Sim!

Certamente aí – e só aí! - se encontra a solidariedade que se espera do mundo,
A solidariedade ampla, amiga, real, sem qualquer contrapartida ou descaminho,
A solidariedade que é de um, e que é do outro, a solidariedade que é de todos!

E o porto, antes distante, transforma-se no efetivo porto de chegada...

EM CENA





Macbeth estava no palco, envolto em luzes. Não era o personagem de Shakespeare, banhado em sangue, na sua tragédia. Era apenas um jovem de olhar entristecido, o rosto pintado, multicolorido, mascarado de pierrot.
Fazia seu papel. Havia perdido a noção do tempo, não possuía o relógio entrelaçado entre os olhos e a vida, não conseguia ouvir qualquer badalar de sinos próximos, não sabia nem mesmo em qual ato estava. Talvez, o décimo. Ou o décimo-quinto. Quem sabe, o vigésimo-sexto... Trazia, é certo, o texto na ponta da língua.
No meio da cena, conseguiu dirigir à platéia um olhar disfarçado. Puxa, havia muita gente! Apinhavam-se aos montes. O teatro deveria estar com a lotação esgotada. Suas pernas tremeram um pouco, mas logo se aquietaram. Tinha a sensação de ter nascido em pleno palco, raramente ficava nervoso quando estava lá em cima. Se bem que, estranhamente, não se lembrava de nenhuma das outras apresentações...
Estava sozinho em cena. Era mais um de seus solos, um monólogo que ele havia iniciado não sabia quando, sequer tinha final previsto. Deslizava, trazendo nas mãos um pouco da angústia do mundo, da boca escorria um certo desolamento, os olhos perdiam o brilho com o tempo. Sua voz rasgou o espaço, seu corpo flutuou como uma bailarina.
Talvez fosse o setuagésimo ato. O pobre Macbeth sabia apenas que o tema da peça talvez fosse o natal, por conta da mesa farta posta para a ceia e, ainda, pela árvore recoberta de enfeites e bolas multicoloridas, que repousava, mansamente, naquele canto empoeirado e esquecido. Ainda estava sozinho no palco, nem mais se lembrava dos outros atores. Não se lembrava nem de tê-los visto. Andava de um lado ao outro e sua voz começava a sair meio arrastada. Mas ele tinha fôlego e, mesmo cansado, ia carregando a peça nos ombros. E que peso tinha ela! Representar era uma tarefa muito difícil. Mas ele conseguia safar-se bem de tudo e esperava, com ansiedade de gestante, a hora dos aplausos.
Centésimo-quinto ato.
Centésimo-nono...
O roteiro dizia para que buscasse, nas folhas soltas de seu pensamento, lembranças de outros natais. E ele o fazia, obediente que era às regras. Pensava no pai, sentado à mesa, fatiando suculentos pedaços daquela ave desengonçada que jazia morta – e temperada - à sua frente. A mãe, que a tudo observava com resignação desmedida, dirigia-lhe um olhar contemplativo enquanto os irmãos, em algazarra, inventariavam os presentes recebidos, disputando-lhes posse e propriedade.
Mas o que era o natal no tempo em que ele ainda era uma criança? Talvez uma festa, apenas isso. Lembrava-se da gostosa agonia de esperar, sem que as pálpebras teimosas tombassem, que as horas, em lenta caminhada, fizessem com que os ponteiros, finalmente, se encontrassem à meia noite para um fugaz beijo de confraternização.
E, de repente, ele vinha de trás e saltava. Dava uma cambalhota, dançava um rock-and-roll no alto de um edifício, pulava em um abismo. De repente, era acusado ora de assassino, ora de poeta, trazia um sorriso e uma lágrima guardados no bolso.
Então subiu, girou, caiu, e parou diante de um quadro ainda não terminado, na parede do palco em frente à mesa da ceia. Era a figura de uma mulher sem face, envolta por uma serpente sem olhos. A música cessou, e ele agora percorria com o olhar o corpo aprisionado da mulher: suas mãos suplicantes, os seios à mostra, um grito parado na boca inexistente. Com suavidade, acariciou os cabelos, dourados e revoltos, seguindo pelos ombros, tocando a pele, escorrendo pelo colo. Tocou a serpente, pegajosa. Encontrou de novo a mulher, seguiu por suas curvas, deslizou pelas pernas, estacionou em seus pés. Beijou-os, roçando lentamente os lábios. Retornou à face sem face, buscando um consolo, algum olhar – que ainda não existia – de compaixão. Mas não encontrou. Agarrou, no tempo de um suspiro, o pincel que se encontrava ao lado. Molhou-o em tinta vermelha e, golpeando a mulher em seu púbis, espalhou sangue pela tela. O poeta havia, em nome do mundo, deflorado a virgem. Mas não ele, propriamente, e sim aquela forma de serpente que a envolvia num abraço. E, no exato instante que a mulher deixou de ser a virgem, ele a havia perdido para aquela forma espiralada, saída do meio de seus fantasmas. Talvez fosse mais um, não podia dizer ao certo. Apenas limitou-se a largar o pincel, molhado de sangue, ao chão. A tinta respingou em suas vestes brancas, e o poeta sentiu-se impuro. Mas deu uma gargalhada, pois agora ele era um membro do mundo.
Sexcentésimo-sexto ato.
Lambia o chão, o pasto, a cerca, a casa, os pés, o sexo, a vida, o todo, o nada, o resto, o mundo. Tinha delírios de uma grandiloqüente eternidade, indisfarçável, que lhe penetrava pela boca. E ele sentia o gozo de ser louco, desvairado, inserido num vórtice vazio...
Sexcentésimo-nono ato.
Olhou, novamente, a platéia. Do palco, iluminado por refletores, encontrou as pessoas, imersas na escuridão do teatro, todas ainda ali, sentadas e quietas, olhos fixos naquele cenário inacabado. Não entendia o interesse delas...
Voltou-se para a mesa posta, imaginando um outro natal. Agora, já era homem feito, família formada, um trabalho burocrático, porém, estável. Procurava não ser pedra no sapato, escondido num zero à esquerda. Não ficava, como o pai, à cabeceira da mesa durante a ceia natalina, servindo os pratos. Sua mulher assumira o encargo, distribuindo aos filhos a maior porção, restando-lhe, quando muito, uma coxa minguada daquela ave esquisita. Reinava o silêncio e a indiferença, ao som do jingle bells. Não havia mais presentes, os sorrisos eram escassos e se, porventura, ele dissesse algo, cortavam-lhe a palavra, de forma implacável. A ceia se fazia e tão logo se acabava. Macbeth suspirava aliviado quando se via livre daquele fardo e ali, deitado no meio do palco, perdia-se num sonho...
E, no sonho, sentia-se no centro de alguma guerrilha, de uniforme vermelho e escopeta na mão, espalhando milhares de coquetéis molotov. Dinamitava barreiras de homens, penetrava em território inimigo, jogava seus aviões como se fosse um cruel kamikase. Avançava seus peões, recuava o bispo, oferecia o cavalo em sacrifício e, por fim, ameaçava definir o jogo num xeque-mate. De vez em quando, uma bomba explodia próximo dele e o jogava em outro campo de batalha, de uniforme vermelho e escopeta na mão. Por volta do octingentésimo embate, resolveu descansar.
E descansou sobre as nuvens, cruzando oceanos, rasgando continentes como se fossem lenços indianos. Rodou como um parafuso sobre as chamas da Estátua da Liberdade, soltou-se como um foguete da plataforma de Cabo Canaveral, sobrevoou o Kremlin, abriu sarcófagos no Egito; domou leões nas selvas africanas, dançou no pico do Everest, apaixonou-se nas linhas geométricas da Torre Eiffel, despencou do Farol de Alexandria; badalou o Big-Ben, procurou oásis no deserto do Saara, ergueu um grito ao espaço sideral; deitou-se no leito estrelado de Cleópatra, escondeu-se num harém, consertou a Torre de Pisa, conspirou na Bastilha, flutuou nos Jardins Suspensos da Babilônia; fugiu da inquisição, poetou em Pasárgada, sentou-se na beirada de uma cadeira, em frente àquela mesa farta. E vazia.
E ali, teve vontade de dinamitar o mundo.
Com as mãos inquietas, Macbeth desfez-se das vestes brancas, manchadas do sangue da virgem. Ficou nu, casto, limpo, e sentiu-se preparado para mergulhar, novamente, na rotina de seu trabalho - afinal, era um ator, e os atores vivem rotinas que nem são deles... Procurava recordar-se do roteiro, mas o texto, viscoso, parecia escapar-lhe, desintegrando-se em milhares de palavras desconexas, como se fossem explosões verborrágicas de um alienado mental. Vestiu uma camisa cor-de-céu e uma calça jeans desbotada, calçou tênis sobre as meias de lã. Rasgou seu território em linha vertical, parando diante do espelho.
E, no espelho, pôde assistir, de camarote, àquela derradeira ceia de natal.
Estava sentado num dos vértices da mesa. Netos saltitantes rodopiavam-lhe o juízo, enquanto seus filhos, indiferentes, vez ou outra, passavam a mão áspera em seus ralos cabelos brancos. A mulher – que jamais houvera sido a mulher sem face que, outrora, deflorara em nome do mundo - gritava com ele, tentando vencer a surdez avançada, esbravejando como em todo natal. Aquela voz estridente vibrava no ritmo do pipocar das rolhas de champanhe, do brinde erguido, calando a música festiva que vinha da rádio. Macbeth era, agora, um velho, decrépito, tremulante. Suas pernas começaram a não ter forças para suportar o peso de sua carcaça. Suas mãos pareciam ter adquirido rugas... Passou-as pelo rosto, sentiu a pele flácida, morta.
Os natais estavam ali para recordá-lo de sua insignificância, da vida inútil que tivera até então. A cada ano, sobre a mesa, deixava sempre um pouco de sua dignidade. Não via sentido algum naquela comemoração, hipócrita, porquanto tivesse sido, a vida inteira, alijado de tudo. Sempre nos cantos, sempre largado, esquecido. Que personagem infeliz, meu Deus! Para muitos, certamente, aquela festa era sinal da vinda próxima de bons tempos, de união e olhos voltados para frente. Porém, o natal, para os velhos – ou seria apenas para aquele velho ator? - é enfadonho. Não representa o nascimento, tampouco a ressurreição. É, antes de tudo, a lembrança constante da proximidade inadiável da morte.
Milésimo ato.
Macbeth decidiu interromper a peça. Chegou-se até próximo à platéia e gritou que bastava, que tinha acabado tudo, que não haveria mais nada. As pessoas o aplaudiram, entusiasmadas. Acabou! Acabou! Gritava, em desespero e, quanto mais gritava, mais altos eram os aplausos. Agarrou os pratos daquela ceia gasta dos natais que se foram e atirou-os em direção à turba ensandecida. Nenhuma reação. Decidiu sair correndo, fugir dali.
Desceu a escadinha no canto direito do palco e atravessou o teatro pelo meio das pessoas, que continuavam a aplaudir, histericamente. Ele passava e não entendia. Olhava as pessoas, agarrava um ou outro para explicar que a peça havia terminado, elas continuavam a rir e a aplaudir...
Chegou até a porta de saída. Deu uma olhada para trás. Viu o palco vazio, as pessoas em pé, aplaudindo o nada. Ainda tentou gritar, espernear, pára! Pára! Pára! Já acabou, não existe mais peça! Acabou... Acabou! Como nada acontecesse, deu as costas.
Abriu a porta.
Milésimo-primeiro ato.
A porta saía noutro palco, que dava noutra platéia, emudecida, naufragada na escuridão, amontoando-se para ver a peça.
Enésimo ato.
Ele era a peça...