sexta-feira, 16 de setembro de 2016

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Aqui estou eu tentando, novamente, reiniciar. Não é a primeira vez, não será a última.

Certamente, essa não é uma tarefa fácil, principalmente hoje em dia, quando já estou cansado do tempo, trazendo mais de meio século nas costas... As palavras – sabe-se lá o motivo! – me visitam com menos frequência e, talvez, seja apenas mais uma tentativa frustrada, daquelas que não dão em nada, que insistem em ficar no vazio. Ou, quem sabe, possa ser esse recomeço um incentivo, uma reconciliação.

Por tanto tempo me distanciei das coisas simples, daquilo que sempre gostei de fazer. Divorciei-me das palavras, dos traços, cores, rimas, formas. Não consigo, nem com grande esforço, lembrar quando foi a última vez em que, intoxicado de arte, derramei poesia em algum meio de expressão...

Desde que entrei nesse árido mundo jurídico, tudo que escrevo traz sempre essa (desagradável) sensação empoeirada, verborrágica. São centenas de parágrafos sem criatividade, justapostos como gado de corte, vernáculos se acotovelando entre brocardos em latim, ganhando aquela vestimenta toda certinha, alinhavada meticulosamente como uma insossa petição inicial...

Quando criei esse blog, ainda nesse tempo em que – imaginava eu! – tinha a arte por companheira, a vontade era que fosse um repositório de ideias, um cantinho em que eu pudesse ser eu, simplesmente. Um local em que, aos poucos, alimentado com pequenas doses de coisas que eu tivesse feito ou que faria em um futuro não tão distante, fosse um retrato, ainda que esmaecido, do ser pensante que, algum dia, habitou em mim...

Ledo engano! Com o passar do tempo e a escassez de palavras, ele foi ficando cada vez mais e mais esquecido n´algum canto não menos esquecido dessa imensa teia que é a internet. Um endereço obscuro, virtual, perdido no meio de tantos outros...

Valeria a pena ressuscitá-lo ainda mais uma vez?

Pois é, acho que me deu vontade, de novo. E, de novo, eu o retiro de seu limbo particular, sopro pra longe os resíduos de passado e me dou a oportunidade de recomeçar.

De início, àqueles que me visitam pela primeira vez, faço um convite. Não é um blog gigantesco, cheio de textos intermináveis ou de leitura difícil e, por isso, caso seja do interesse, peço que vasculhem as postagens anteriores. Tem um pouquinho de mim em cada uma delas... É o primeiro passo para que possamos nos conhecer melhor.

E, depois, daqui pra frente – quem sabe! – tenhamos sempre um encontro, seja para falar sério, seja para falar amenidades.

Fica sendo meu compromisso.

Sejam bem-vindos!

terça-feira, 5 de julho de 2011

APRENDIZ

Perdi alguns quilos de idéias pelas avenidas espiraladas.
Coloquei um anúncio na seção de Achados e Perdidos
Na esperança de que algum boêmio, de porre da vida,
Achasse e se embriagasse com a poesia de minhas idéias...
Mas até hoje não recebi notícias e, talvez,
Minhas idéias tenham sido encontradas pelo poeta frio
De esquinas frias e dentes de ouro
E, quem sabe, num ímpeto de quem nunca soube fazer nada
Brincou, como uma criança, de moldar versos com elas...

domingo, 17 de outubro de 2010

TRIBUTO À CORA CORALINA

ANINHA E SUAS PEDRAS
(Cora Coralina)

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.



Cora – Linda! - Coralina sentou-se, calada, à mesa, segurando um pequeno volume recém-nascido, com as mãos ainda trêmulas. Era sua primeira cria e sentia-se como mãe inexperiente, repleta de ansiedade, ainda que seus cabelos brancos, docemente revoltos, denunciassem a idade avançada.
Uma a uma, as páginas de versos coagulados eram viradas e, a cada lembrança renascida, sonhos adolescentes de futuro brilhavam na retina fatigada. Uma pequena lágrima de felicidade atravessava o rosto carcomido pela irremediável passagem do tempo...
Mas se o tempo passou, e daí? Ele, agora, recomeçava em um compasso deliciosamente lento. Recomeçar era mesmo um elixir da juventude e, recomeçando, ela se reinventava, tornando-se a menina que fora um dia, com o frescor de uma manhã iluminada!
Afinal, quando nos reinventamos, reconstruindo a cada dia o arcabouço daquilo que somos, acrescentando-lhe o viés do ineditismo, adquirimos a longevidade própria daquele que se recria e se renova. Pavimentamos a estrada desse novo caminho que, refeito, amplia nosso horizonte, cria dimensões inimagináveis e, de repente, somos sugados para o interior da nova criatura que nos tornamos, ainda mais ávidas de conhecimento, de experiência, de vida.
Então, a linda Cora Coralina recostou-se, após virar a última página. Sabia que seu primeiro filho estava pronto para lançar-se no mundo e ela, enfim, pronta para essa nova etapa de sua existência: renascida, recriada, reinventada, como se não fosse tão tarde...
Não, nunca é tarde para recomeçar! Dos destroços de nós mesmos, espalhados, podemos reconstruir o castelo do ser que somos e, das palavras soltas, empoeiradas, sem significado, podemos recriar frases inteiras, pacientemente reconstruindo versos de um poema gasto. Daquele cálice vazio, podemos reinventar o vinho adocicado e dele, sedentos, sorver a motivação de caminhar, embriagado de vida, sempre em frente. Sempre.
Cora Coralina, linda, acaba de folhear o livro, seu filho, e o deixa sobre a mesa. De olhos fechados, suspira profundamente, naufragando no sonho dentro de um sonho. E de dentro dele, sonhamos com ela. Seu exemplo nos inunda e, como a própria fênix, renascida das cinzas, reconstruimos nossa realidade que, reinventada, nos incendeia. Sentimo-nos renovados!
Prontos para, finalmente, recomeçar...

domingo, 3 de outubro de 2010

REENTRADA TRIUNFAL

Mais uma vez, recomeço...

sábado, 27 de março de 2010

15 anos...




Filha, você nem imagina quanto tempo eu levei até conseguir escrever algo que, de alguma forma, pudesse dizer um pouco do que sinto nesse momento... Por várias vezes, sentei-me diante do teclado, mas as palavras, as idéias, não surgiam. Tentei um poema, apenas um verso, só uma frase... E nada. Até que entendi a simplicidade da tarefa: sentimentos, como o nosso, não necessitam de palavras rebuscadas, de terno e gravata, arrumadinhas sem falha numa folha de papel...
Não. As palavras, neste contexto, são menos importantes, valem as entrelinhas. E é nas entrelinhas que encontro derramado todo o meu amor por você...
Lembro-me de quando você era pequenininha... Como éramos unidos! É certo que, hoje, temos tido nossas divergências – é normal, já que você é uma adolescente que está vivendo todas as fases da adolescência ao mesmo tempo. Também já passei por isso e sei que crescer tem seu preço. Hoje já não sou o pai-herói de antigamente, sou simplesmente aquele pai chato que vive cobrando estudo e atitude... Mas como sua mãe diz, educar é falar uma vez, outra, e outra, e outra... E continuar falando, sem nunca desistir.
Sei que hoje é um dia especial, não apenas para você, mas para todos nós. Você mesmo me disse que sonhava com esse dia desde pequena... Talvez seja assim com todas as mulheres, não? Ter a sua festa de 15 anos, ser uma debutante, mostrar para todo mundo que já não se é mais uma simples criança...
Engraçado, a gente até se assusta, já que não faz tanto tempo assim, você ainda era um bebê de colo, engatinhando de um lado para o outro... Mas o tempo passa, rápido, galopante, trazendo ainda mais rápido suas conseqüências. Neste rito de passagem, nesta sua festa de 15 anos, você hoje deixa de ser a menina e passa a ser a mulher. E, com isso, novas responsabilidades irão surgir, a maturidade a caminho... Crescer é um processo doloroso, mas necessário. Mas não se preocupe: nossos braços estarão sempre abertos para você, nossas mãos sempre prontas para lhe amparar. Estaremos, eu e sua mãe, sempre do seu lado, incondicionalmente.
Que você seja muito feliz, minha filha! Que cresça sem perder a ingenuidade das crianças... Que traga sempre um sorriso no rosto, um brilho especial nos olhos, um encantamento no coração!
Amo você. Sempre.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

MASTER CLASS

MASTER CLASS

TIETA

Novela de
Aguinaldo Silva

Personagens desta cena
PERPÉTUA
RICARDO
TIETA


Nº DE LINHAS MÁXIMO PROPOSTO : 50 LINHAS
Nº DE LINHAS UTILIZADO NA CENA : 50 LINHAS (formatado)

Perpétua puxa o lençol que cobre Ricardo, revelando-o.

CORTE PARA:


CENA 1. QUARTO. CASA DE TIETA. INTERIOR. NOITE.

Close de Perpétua, olhos arregalados, boca aberta, olhar distante.

TIETA — (se aproximando) Não é bem isso que você está pensando...
PERPÉTUA — (balbuciando, como se fizesse sentido, as palavras em ritmo rápido, sem pontuação, sendo “metralhadas”) Ai, a casa que é como se fosse o que fosse e que ficava sendo o que foi no meio das provações infinitas de Deus que é o que foi e o que se deu no canto da sala sorrindo...
TIETA — (aproximando-se, enquanto Ricardo se cobre novamente) Hein??? Endoidou, mulher???
PERPÉTUA — (levantando-se e postando-se ao lado da cama, falando em tom mais alto)...E estava em cima e sobre o que sempre esteve subindo sobre o coisa-ruim que batias as asas em cada um dos pecadores embaixo dos olhos do senhor no meio de tudo e do lado de nada!
TIETA — Em cima do que?...
PERPÉTUA — (andando pelo quarto a esmo, olhando para o alto, braços levantados) ... E sobre o tudo estava o nada naquilo que se deu em cada fogo da fornicação que queimava o que era e também o que foi na luz das provações que viriam do altíssimo pra inundar a terra na mansidão do que se deu...
TIETA — Ai, meu Jesus Cristo, você não está dizendo coisa com coisa, Perpétua!!! Como entrou aqui??? Esse é meu quarto, você não tinha o direito...
PERPÉTUA — ... Esse é o manto da salvação de cada canto e em cima de tudo que desce abaixo do céu e ilumina o que foi dentre o que era e ainda que não fosse jamais seria sendo o que é na hora de tudo se acabar na chama do inferno...
RICARDO — (levantando-se rapidamente, protegendo-se com o lençol e aproximando-se de Tieta, sussurrando-lhe, enquanto observa Perpétua andar sem rumo pelo quarto, dizendo palavras sem nexo) O que está havendo??? Mãinha enlouqueceu???
TIETA — (também sussurrando) E eu é que vou saber??? Vai, vai, se arruma e sai daqui...
RICARDO — (se arrumando, de forma atrapalhada, nervoso) Tá, eu vou... (sai pela janela).
TIETA — (se aproximando de Perpétua) Minha irmã, que diachos está havendo com você???
PERPÉTUA — (olhando assustada para Tieta, que lhe segura. Livra-se de Tieta e se encaminha para a porta, aos gritos) ...veja a luz se apagar antes que se acabe o que não começou... (sai correndo pela porta).
TIETA — Ai, meus Deus, o que vai ser agora??? (sai pela porta também, atrás de Perpétua).

CORTA PARA: