sexta-feira, 23 de novembro de 2007

XAVIER ZARCO


Por certo, em alguns momentos – talvez nem sejam tão raros! – somos tomados por uma avassaladora inveja de textos alheios, como se deles quiséssemos usurpar a autoria, transformando-os em pedaços de nós mesmos, rebentos extemporâneos daquele brilho de imaginação que, por algum inexplicável motivo do qual não nos apercebemos, foge-nos naquele exato instante em que pretendíamos – oh, doce inocência! – coagulá-los na virgem folha de papel...
Uma inveja saudável, creio eu. Afinal, na medida em que reconhecemos no texto do outro valores que gostaríamos fossem nossos, tal fato, de alguma maneira, servirá como força motriz ensejadora de uma busca incansável da superação daquilo que entendemos, no momento, como limite. Ora, se o outro fez, também podemos fazer, não é lógico?
Nem sempre. Mas não há como negar que funciona inequivocamente como mola propulsora da imaginação e, quando bem trabalhada, pode gerar belos frutos...
Devo confessar que sou tomado, inteiramente, por essa sensação ao ler a poesia e a prosa de Xavier Zarco. E, confesso, não há como não sê-lo, uma vez que, na integralidade do seu texto, paira uma perfeição orgânica, viva, pulsante, que se recria e se avoluma em cada palavra que, volátil, ganha vestimenta diversa, variando conforme sopram os ventos imantados de suas metáforas iluminadas... Há, sem dúvida alguma, um liame mágico entre o autor e aquele que o compartilha, gerando vasta energia criadora que se espraia e transpassa o brilho do que se pretendeu, revelando uma diversidade de caminhos que, antes, cegos e insensíveis, não havíamos tido a oportunidade de experimentar. Um fruto que, apesar da aparência indevassável, mostra-se extremamente suculento...
Causa-me assombro tamanha produção! Incessante, viril, devastadoramente bela. É como se ele próprio fosse feito das palavras que reinventa, um ser etéreo amalgamado em poesia, que exala e transpira encantamento e que reveste o papel, antes límpido e sem graça, com a suavidade delirante da criação literária...
Tive o prazer e a honra de guarnecer seus versos com meus traços amadores, porém esforçados. Na verdade, nem conseguia imaginar que minhas ilustrações pudessem, algum dia, atravessar o oceano como imagens decompostas em bits navegando por cabos óticos, em ondas faiscantes... Algo tão louco e, na mesma medida, instigante.
O primeiro deles foi o delicado “O Guardador da Águas”, Prêmio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2004, organizado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O convite, inesperado, foi-me feito por Xavier Zarco através de e-mail – bendita tecnologia! – e aceito de pronto, no que pese aquele friozinho na espinha que sentimos quando mergulhamos em algo desconhecido. E, de fato, ilustrar a capa de um livro premiado de um poeta d´além mar era vôo que jamais havia pensado alçar...
Depois surgiu o convite para “O Livro do Regresso” (Prémio de Poesia Raúl de Carvalho - 2005, promovido pela Câmara Municipal do Alvito). Esse ainda ficará em suspense... E, por fim, “Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros”, que foi distinguido com o Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007, certame organizado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Tentei dar, em todos eles, na medida das minhas possibilidades, as cores e a forma que imaginei ao penetrar no mundo do poeta. Deparei-me, nessa viagem, com um universo fantástico, onde as palavras – todas elas! – restam impregnadas de significados novos e surpreendentes. Palavras que, justapostas na medida certa, trazem a esperança de que tudo AINDA pode dar certo e que essa é uma vida que – felizmente e com poesia! - vale a pena ser vivida...


Um comentário:

Unknown disse...

Caro Del,

Bom... O que dizer, melhor, escrever que não seja o mais do que sincero agradecimento pelas tuas palavras, mas sobretudo pela amizade e pela generosidade com que tens atravessado este Atlântico em meu auxílio para as fantásticas ilustrações de capa.
Com reconhecimento, um abraço

Xavier Zarco

PS.: "O livro do regresso" vai ser uma realidade já em Fevereiro.