segunda-feira, 27 de abril de 2009

MASTER CLASS

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TIETA

Novela de
Aguinaldo Silva

Personagens desta cena
PERPÉTUA
RICARDO
TIETA


Nº DE LINHAS MÁXIMO PROPOSTO : 50 LINHAS
Nº DE LINHAS UTILIZADO NA CENA : 50 LINHAS (formatado)

Perpétua puxa o lençol que cobre Ricardo, revelando-o.

CORTE PARA:


CENA 1. QUARTO. CASA DE TIETA. INTERIOR. NOITE.

Close de Perpétua, olhos arregalados, boca aberta, olhar distante.

TIETA — (se aproximando) Não é bem isso que você está pensando...
PERPÉTUA — (balbuciando, como se fizesse sentido, as palavras em ritmo rápido, sem pontuação, sendo “metralhadas”) Ai, a casa que é como se fosse o que fosse e que ficava sendo o que foi no meio das provações infinitas de Deus que é o que foi e o que se deu no canto da sala sorrindo...
TIETA — (aproximando-se, enquanto Ricardo se cobre novamente) Hein??? Endoidou, mulher???
PERPÉTUA — (levantando-se e postando-se ao lado da cama, falando em tom mais alto)...E estava em cima e sobre o que sempre esteve subindo sobre o coisa-ruim que batias as asas em cada um dos pecadores embaixo dos olhos do senhor no meio de tudo e do lado de nada!
TIETA — Em cima do que?...
PERPÉTUA — (andando pelo quarto a esmo, olhando para o alto, braços levantados) ... E sobre o tudo estava o nada naquilo que se deu em cada fogo da fornicação que queimava o que era e também o que foi na luz das provações que viriam do altíssimo pra inundar a terra na mansidão do que se deu...
TIETA — Ai, meu Jesus Cristo, você não está dizendo coisa com coisa, Perpétua!!! Como entrou aqui??? Esse é meu quarto, você não tinha o direito...
PERPÉTUA — ... Esse é o manto da salvação de cada canto e em cima de tudo que desce abaixo do céu e ilumina o que foi dentre o que era e ainda que não fosse jamais seria sendo o que é na hora de tudo se acabar na chama do inferno...
RICARDO — (levantando-se rapidamente, protegendo-se com o lençol e aproximando-se de Tieta, sussurrando-lhe, enquanto observa Perpétua andar sem rumo pelo quarto, dizendo palavras sem nexo) O que está havendo??? Mãinha enlouqueceu???
TIETA — (também sussurrando) E eu é que vou saber??? Vai, vai, se arruma e sai daqui...
RICARDO — (se arrumando, de forma atrapalhada, nervoso) Tá, eu vou... (sai pela janela).
TIETA — (se aproximando de Perpétua) Minha irmã, que diachos está havendo com você???
PERPÉTUA — (olhando assustada para Tieta, que lhe segura. Livra-se de Tieta e se encaminha para a porta, aos gritos) ...veja a luz se apagar antes que se acabe o que não começou... (sai correndo pela porta).
TIETA — Ai, meus Deus, o que vai ser agora??? (sai pela porta também, atrás de Perpétua).

CORTA PARA:

quinta-feira, 15 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

PEQUENAS NOITES ENCANTADAS DE AMOR INCENDIÁRIO

IV - NUMA ILHA DESERTA...

Pelo reflexo em teus olhos cristalinos, percebo o azul transbordante que nos rodeia. Nessa ilha deserta perdida no meio do mundo, sob um céu negro rendilhado de estrelas faiscantes, observados pela lua sorridente, preparamos o ato como quem prepara a vida.
Estamos nus, a pele orvalhada exala desejo. Entrelaçamos as mãos, nesse pacto silencioso e, entre murmúrios, descobrimo-nos aos poucos, com a sutileza inesperada de quem espera...
A noite avança.
Náufragos incontidos, entregues ao desejo incontrolável, a cada beijo apaixonado tentamos, como canibais ressuscitados, engolir-nos, introjetando esse amor de forma definitiva.
Provo seu gosto, como quem prova uma fina iguaria, néctar dos deuses, enquanto um arrepio elétrico percorre meu corpo, surpreendendo meus sentidos. Seus braços, como serpentes insaciáveis, aprisionam meus pensamentos, sua boca de minha pele se alimenta.
A noite pára. O tempo, suspenso, apenas observa.
Delicadamente, deitamo-nos na areia iluminada e, ali, entre o vento e as palmeiras, atingimos o orgasmo indivisível.
Apenas eu e você, nessa noite de sonho.

PEQUENAS NOITES ENCANTADAS DE AMOR INCENDIÁRIO

III - NUMA CABANA, NO MEIO DO NADA...

Junto as tintas incontáveis, de cores diversas, colocando-as diante de mim, agarro-me à tela virgem e, como se fosse um pintor renascentista, surpreendo-me imaginando como seria a noite de meus sonhos.
Dou um traço. Do borrão que se forma, ergo uma cabana no meio do nada, alaranjada, rodeada por verde-esperança. Adiciono, entre suspiros incontidos, um friozinho daqueles, em brancas pinceladas nervosas, uma pequena lareira e, sobre a mesa posta, adornada de carinho, uma panela de fondue delicadamente borbulha, incendiando o coração apreensivo.
Diante de mim, a mulher sem face, de corpo desnudo e cabelos enovelando pensamentos,sorrateiramente, aprisiona meu sexo. Do suor do ato, bebo de um prazer indescritível, desses que não se diz, dizendo... A pele, em comunhão silenciosa, torna nosso vermelho-sangue em amarelo-solar e, radiantes, não nos contemos dentro de nossas carcaças. Libertos, voamos por sobre azuis infindáveis...
O pincel que, deliciosamente, pinta essa noite, deixa gotejar alguma cor universal, em meio a esse devaneio encantado. Então, como se fosse o quadro terminado, entrego-me à mansidão do orgasmo, dissolvido, esparramado, como um poema que se desfaz em versos, como um arco-íris que se desfaz em cores.
Como a noite, que se desfaz em estrelas...

PEQUENAS NOITES ENCANTADAS DE AMOR INCENDIÁRIO

II - ENTRE QUATRO PAREDES

Com ansiedade desmedida, mergulho nessa noite imaginada, enquanto seus braços aprisionam meu desejo e o fazem caminhar na estrada dos sentidos em velocidade de cruzeiro.
Entre quatro paredes, nesse quarto enluarado, explodimos em estrelas. Do suor e do sêmem espalhados nascem galáxias inquietas e, para cada volta do relógio que se quer interminável, pulsam quasares incontidos e supernovas delicadas.
De sua boca escorre um quê de inocência intocável e a devassidão das mulheres que vivem. Nos seios iluminados pela lascívia, perco-me na veneração absoluta, enquanto me desfaço em orgasmos múltiplos - tão incontáveis e definitivos! - sentindo-me vulcão em fúria despertada...
Por um momento, sob o olhar da lua enternecida, caprichosamente enrolamos nossos corpos num abraço, como se fôssemos criaturas repletas de tentáculos açucarados. Deitados na arena dessa batalha deliciosa - nossa cama, em nosso quarto, envolto por paredes indiscretas - atigimos o clímax.
Sonolentos após o ato, esperamos ansiosos o recomeço arrebatador. E, nesse compasso de espera, entre suspiros febris, reafirmamos esse amor que, por ser amor, é universal.